Escolher é difícil.
Pergunte a um psicólogo e ele vai explicar por que gente obrigada a optar entre
uma coisa e outra – qualquer que sejam essas coisas – sente ansiedade. Isso
acontece em lojas de sapato, em restaurantes, na porta do cinema e até no sexo.
Uma amiga me contou outro dia como foi estar numa festa e ter dois homens
sedutores dando em cima dela. “Tive de escolher um deles, mas com um aperto no
coração”, ela me disse. No dia seguinte, o bonitão que ela escolheu caiu no
vácuo e nunca mais deu notícias. Escolher, ela aprendeu, é abrir mão de alguma
outra coisa - e as conseqüências podem ser irreversíveis.
Infelizmente para nós, nem todas as escolhas são tão simples
quanto a do sexo na balada. Penso na escolha mais delicada que a gente faz na
vida, aquela que envolve os parceiros de longo prazo. Em que momento concluímos
que uma pessoa deixou de ser apenas item de prazer ou fonte de encantamento e
se tornou a criatura com quem vamos dividir a vida? Pode ser casando, comprando
apartamento e tendo filhos, ou, de forma menos ritualizada, pondo os
sentimentos e necessidades dela no centro da nossa vida, mesmo vivendo em casas
separadas. O compromisso é parecido, assim como os caminhos que levam a ele.
A primeira coisa que conta nas grandes escolhas – eu acho - é a
permanência. Ninguém tem direito a reivindicar um posto dessa importância sem
ter ralado um tanto. Não adianta a Fulana decidir, em 30 dias, que vai ser sua
mulher para o resto da sua vida. Não funciona assim. O teste do tempo é
fundamental. Se aquela mulher ou aquele sujeito continua lá depois de todas as
discussões e inevitáveis desencontros, se ela ou ele resolveu ficar depois de
todas as chances de ir embora, se os seus sentimentos em relação a ele ou ela
continuam vivos, um bom motivo há de haver.
É essencial, também, que a experiência de convívio seja boa.
Amores tumultuados dão bons filmes e péssimas vidas. É essencial acordar no
sábado e ter vontade de ficar mais tempo na cama, enrolado naquele ser ao seu
lado. Se a conversa antes de dormir deixou de ser gostosa ou se qualquer
programa parece mais interessante do que a companhia dela ou dele, para que
insistir? O prazer que o outro proporciona é essencial. Prazer de transar,
prazer de olhar, prazer de ouvir, prazer de simplesmente estar. Se você caminha
pela rua com ela e os dois são capazes de rir um com o outro, algo vai bem. Se
você passa a tarde com ele no sofá, lendo ou transando, e o dia parece
perfeito, eis um bom sinal. A felicidade não tem receita, mas a gente percebe
quando está funcionando.
Para que as coisas funcionem no longo prazo é essencial haver
lealdade. Eu cuido, eu protejo, eu respeito – e você faz o mesmo comigo. Se
você não sente que seus sentimentos e a sua vida são importantes para ele ou
para ela, desista. Como o ambiente lá fora é hostil, é essencial saber que no
interior da relação existe cumplicidade e abrigo, com um grau elevado de
honestidade: você diz o que pensa e isso vai ajudar, ainda que doa. É
impossível prometer que coisas ruins jamais irão acontecer, é falso garantir que
os sentimentos permanecerão os mesmos para sempre, mas é essencial olhar nos
olhos do outro e sentir a disposição de tentar, verdadeiramente, que seja
assim. Aqui, agora, de todo o coração, tem de ser para sempre – ou então a
gente nem começa.
Se tudo isso existir – e não é fácil – ainda fará falta um quarto
elemento, essencial ao equilíbrio duradouro das relações: os planos. Se ele que
ter cinco filhos e você não quer ser mãe, não vai rolar. Se ela quer levar uma
vida de viagens e aventura e o seu sonho é ficar aqui mesmo, perto das famílias
e dos amigos, não deu. Viver bem pressupõe afinidades essenciais de gosto,
sentimento e expectativas, sem falar de ideologia. Todas essas coisas se
refletem nos planos. Eu penso no amor como um voo de longa distância. O avião
precisa estar carregado com o tempo da relação, com o prazer que ela
proporciona e com a lealdade em que ela está baseada – mas as pessoas ainda têm
de concordar sobre o destino. Se eu quero ir à Tóquio e você à Nova York,
precisamos embarcar em vôos diferentes.
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