sexta-feira, 22 de junho de 2012

Um Mal Chamado Co-Dependência – Bety France

Considero relevante escrever sobre este tema, não só por ele prevalecer nas discussões atuais, como para evitar que pais e educadores perpetuem o mesmo ciclo de abusos e interação familiar disfuncional que geram filhos co-dependentes ou portadores de outras doenças.

Minha prática clínica revela como a aplicação de Técnicas de Educação Disfuncionais e um ambiente familiar contaminado pelo alcoolismo e outras desordens compulsivas podem comprometer o desenvolvimento humano e favorecer o surgimento de doenças, mais enfaticamente desta de que trato aqui, a Co-dependência.

Infelizmente, muitas famílias estão imersas em situações problemáticas, mas preferem a acomodação à transformação. Afinal, transformação requer trabalho árduo e gera desconforto. Muitas vezes conviver com um problema conhecido é mais fácil. A negação do problema é uma forma de manter a doença, evitar os sentimentos de ansiedade, medo, culpa, e preservar a homeostase familiar.

Inicialmente, acreditava-se que as raízes da Co-dependência estavam relacionadas às experiências de abuso da infância e à maneira como fomos afetados pela convivência com pessoas viciadas em álcool ou com outras desordens compulsivas.

A convivência com alguém doente e fora de controle por causa da dependência química parecia determinar os sentimentos (vergonha, medo, raiva, dor) e comportamentos dos outros membros da família. O membro viciado tornava-se o foco principal da família, mobilizando os demais para assumir seus cuidados de maneira compulsiva. Na verdade, codependentes e dependentes químicos apresentam condições físicas e emocionais similares - um é viciado em drogas, o outro, em relacionamentos obsessivos.

Porém em alguns casos, observou-se que, quando os alcoólatras ficam curados, o comportamento co-dependente da família permanece e às vezes até se intensifica. Então, passou-se a suspeitar que as causas ocultas dessa doença antecedessem o vício da bebida, e que outros fatores poderiam produzir um co-dependente.

Sem dúvida, ter um educador negligente e abusivo e um ambiente familiar contaminado por vícios e desordens compulsivas são fatores intimamente relacionados ao surgimento da Co-dependência em outros membros da família, mas definitivamente não são os únicos capazes de deflagrar a doença.

Embora cada co-dependente apresente uma experiência única originada de sua convivência familiar e de sua personalidade, um ponto comum aparece em todas as histórias de Co-dependência - a influência dos outros sobre o comportamento do co-dependente e a maneira como o co-dependente tenta influenciar os outros (sejam alcoólatras, sejam viciados em jogos ou compulsivos sexuais, sejam indivíduos com reações excessivamente emocionais ou indivíduos sem autonomia financeira).

Em essência, os co-dependentes são muito sensíveis aos problemas alheios, dizem sim quando querem dizer não, guardam o que sentem para não ferir os sentimentos alheios, preferindo ferir a si mesmos. Essas pessoas freqüentemente parecem ser delicadas e prestativas, tentam ajudar em nome do amor. Porém, o exame mais minucioso revela que elas têm enorme necessidade de controlar e manipular o outro e fazer o que querem.

Como todo investimento para controlar o outro é inútil, o co-dependente sente-se impotente. O arrependimento e a autopiedade surgem, fazendo-o sentir-se usado. E para piorar a situação, a pobre pessoa "a quem tentamos resgatar não é capaz de demonstrar gratidão". Co-dependentes dão mais do que recebem, e depois se sentem abusados e negligenciados. Seu maior inimigo chama-se autovalorização reduzida.

Co-dependência é uma dependência paradoxal. Embora os co-dependentes pareçam objetos da dependência, eles é que são dependentes. Parecem fortes, mas se sentem indefesos. Parecem controladores, mas na realidade são controlados pelos vícios e comportamentos de outras pessoas. Co-dependentes não são mais disfuncionais ou doentes que os dependentes químicos, mas sofrem tanto quanto eles, ou mais. Pois comumente suportam sua dor sem o efeito anestésico do álcool ou de outras substâncias químicas.

A Co-dependência pode desencadear, entre outros comportamentos e sensações, abuso de substâncias químicas, violência familiar e ansiedade.

Na verdade, ainda não se chegou a um consenso se a Co-dependência deve ser definida como doença ou como reação normal a pessoas anormais. Particularmente, considero a Co-dependência uma enfermidade progressiva, que mantém e alimenta a doença das outras pessoas, impedindo-as de conquistar a autonomia e assumir responsabilidades. Co-dependentes desejam e precisam de pessoas doentes e dependentes a sua volta, pois só assim se sentem felizes a sua maneira - patológica.

A dependência pode ser química, emocional, financeira e física conforme a doença - clínica ou mental.

Sua progressão pode desencadear depressão com pensamentos suicidas, desordens alimentares, abuso de substâncias químicas, violência familiar, relações sexuais extra-conjugais ou promíscuas, emoções ou explosões intensas, hipervigilância, ansiedade, confiança ou negação excessiva e doenças clínicas crônicas. E, ao contrário dos dependentes químicos, os co-dependentes a que aqui me refiro dificilmente recebem tratamento, pois sua recompensa são justamente os cuidados que dedicam aos outros e os esforços que envidam para agradá-los.

Porto (in)seguro

O perfil familiar mais observado clinicamente apresenta as seguintes características: vínculos de dependência simbiótica, indefinição hierárquica, ausência de limites.
Observo que as famílias com esta problemática são aquelas em que não existe diálogo, cujo pai é ausente/omisso, não assume responsabilidades pela educação dos filhos, e cuja mãe é superprotetora, controladora e hiperfuncionante.

Famílias que não fornecem um conjunto de regras de conduta social e negligenciam necessidades básicas (higiene, alimentação, educação, saúde). Crianças que não tiveram suas necessidades básicas supridas, não se sentem dignas de afeto e temem o abandono - para evitá-lo, quando adultas cuidam compulsivamente dos outros.

No extremo oposto, as famílias que protegem excessivamente os filhos, não lhes permitindo enfrentar as conseqüências do próprio comportamento e fazer suas próprias escolhas. A superproteção dos pais retarda o desenvolvimento da autonomia, e do interesse dos filhos por atividades extrafamiliares. Esses pais com freqüência apresentam muita intimidade com os filhos, fazendo deles seus confidentes e compartilhando segredos que estão além do seu nível de entendimento. Ausência de hierarquia e excesso de intimidade são atitudes abusivas.
Pessoas que foram criadas em lares disfuncionais têm seus limites danificados de várias maneiras, sendo protegidas em demasia ou insuficientemente. Os pais co-dependentes sempre atuam nos extremos, podem ser muito rígidos com os filhos na disciplina ou totalmente permissivos.

Se os pais orientam de maneira inadequada o estado de dependência da criança, esta se torna ou excessivamente dependente, sentindo-se necessitada e carente em excesso, ou antidependente, quer dizer, desprovida de necessidades e desejos.

Crianças criadas em famílias disfuncionais podem parecer comportadas, ajustadas, empreendedoras e bem-sucedidas; ou mimadas, dominadoras e autodestrutivas.
Ambos os conjuntos de características podem refletir as adaptações internas que essas crianças fizeram para sobreviver na respectiva família disfuncional. Mas sabemos, agora, que esses ajustamentos conduzem à co-dependência na idade adulta.

Abuso e Co-dependência

Filhos de pais disfuncionais podem sofrer todas as formas de abuso manifestas ou veladas (físico, sexual, emocional, intelectual e espiritual). E o abuso pode conferir poder à vítima ou debilitá-la.

Uma das principais características que distinguem um sistema familiar disfuncional de um funcional é que neste há uma forte aliança entre os pais, que cooperam para a resolução de conflitos e para a satisfação das necessidades dos filhos. Além disso, usam-se do papel de pais para exercerem autoridade. Na família disfuncional, as crianças existem para suprir as necessidades dos adultos.

Crianças devem simplesmente ser crianças, dedicando-se às tarefas de sua faixa etária que promovam seu desenvolvimento. Não é responsabilidade das crianças zelar pelos pais e pelos irmãos, é dos pais. As formas de abuso sexual e emocional são os mais alarmantes exemplos de crianças sendo usadas para satisfazer as necessidades dos pais.
Identificação e diagnóstico

A Co-dependência é identificada por muitos profissionais como processo doloroso e quase onipresente em certos grupos de nossa sociedade. Estimase que 80% das pessoas são co-dependentes em algum grau.
Timmon Cermak, no Journal of Psycoative Drugs (1986), sustenta que a Co-dependência pode ser definida dentro dos critérios DSM-III para os distúrbios mistos de personalidade. Concordo com seu critério e ressalto que este problema se relaciona com doenças DSMestabelecidas, principalmente com o distúrbio de personalidade dependente. Acredito que nos encontramos diante de uma necessidade iminente de investigação de um grave distúrbio de personalidade. Mas enquanto não fizermos uma pesquisa conclusiva, não poderemos ser categóricos, classificando a Co-dependência como distúrbio de personalidade.

Uma vez que aceitamos que a Co-dependência existe em igualdade de condições com outros distúrbios de personalidade, como o distúrbio de personalidade limítrofe, narcisista ou dependente, deve ficar claro que ela deve ser tratada com o mesmo nível de preocupação.
Inicialmente, é muito difícil perceber a doença, pois os que dela sofrem podem se esconder atrás de uma máscara de adequação e sucesso destinada a obter aprovação. Ter dinheiro é uma das mais poderosas experiências que mascara a insegurança pessoal e a falta de auto-estima.

Os co-dependentes podem disfarçar seus verdadeiros sentimentos em relação a si mesmos, escolhendo as roupas certas, mantendo o cabelo sempre arrumado, vivendo na casa adequada e tendo os melhores empregos. Neste caso, a ausência de valor pessoal está freqüentemente conectada ao que fazem ou não, o que representa boa parte dos conflitos internos.

Embora não exista um número exato de características que garantam que uma pessoa é ou não co-dependente, pode-se criar um panorama geral para facilitar a identificação:
Relacionamentos destrutivos e forte tendência a ligar-se a pessoas com dificuldades;
Relacionamento primário com um dependente químico ativo durante pelo menos dois anos sem procurar ajuda externa;
Preocupação com o outro se transforma em obsessão;
Negligência pessoal x zelo excessivo pelos outros;
Autovalorização reduzida;
Recusa em gozar a vida;
Trabalho compulsivo;
Perfeccionismo;
Sentimento de culpa
Sentimento de obrigação;
Fuga de relacionamentos para não ter intimidade;
Fuga de compromissos.
  
Abuso Emocional

É provavelmente a forma mais freqüente de abuso. É expresso pelo abuso verbal, abuso social e pela negligência ou abandono das necessidades do outro. O abuso verbalizado são os gritos, xingamentos, o sarcasmo e a admoestação humilhante e desrespeitosa, que faz os filhos sentir-se inferiores e inadequados. Pais críticos geram filhos temerosos de tudo: de não conseguirem fazer nada certo, de não serem aprovados na escola, de não aprenderem língua estrangeira.
Em qualquer sistema familiar, até mesmo nos funcionais, os pais ocasionalmente deixam de agir em benefício das crianças. Não existem pais perfeitos, e é provável que todos sejam pouco atenciosos de vez em quando. Porém, responsabilizam-se por suas imperfeições e pedem desculpa. Pais saudáveis confrontam a criança quando algo não é adequado mas de maneira firme, sem ferir-lhe a identidade.
Negligenciar qualquer necessidade do filho, interferindo arbitrariamente na escolha e acesso aos amigos (vida social), como alimentação, vestuário, abrigo, assistência médica, carinho físico e emocional (tempo, atenção, educação), informação e orientação sexual e financeira é expor as crianças a situações de abuso, dificultando seu desenvolvimento em direção à maturidade.

"A PRIORIDADE DO CUIDADOR É IMPEDIR QUE AS PESSOAS CRESÇAM. O DISCURSO USUAL DO CO-DEPENDENTE É "DEPOIS DE TODA MINHA DEDICAÇÃO, VOCÊ NÃO PODE IR EMBORA"

Dependências químicas (drogas ou alcoolismo), vício de sexo, compulsão por jogo, vício de religião, distúrbios alimentares, consumismo compulsivo, vício de trabalho ou de qualquer ordem estão entre as principais razões que levam os pais a negligenciar os filhos. Os pais co-dependentes talvez experimentem vícios, doença física ou mental como uma maneira de evitar a realidade por não suportá-la.

O abuso sexual nem sempre é manifesto e óbvio, mas transfere consciente ou inconscientemente para o filho a responsabilidade de suprir suas carências
Todo vício é um processo compulsivo destinado a distrair a pessoa e afastá-la de uma realidade intolerável. Como tem a capacidade de mascarar a dor, seja qual for o vício, ele se torna a mais alta urgência na vida pessoa, tomando seu tempo e atenção de outras prioridades como seus filhos, que precisam de orientação e amor dos pais.
O abuso intelectual surge quando o pensamento da criança é ridicularizado, quando não é permitido expressar o que pensa ou ainda quando é reprovada porque seu pensamento difere do dos pais. O abuso intelectual também ocorre quando os pais invadem o processo de tomada de decisão dos filhos e decidem tudo por eles ou se omitem totalmente. Não é ensinado aos filhos que ter problemas e solucioná-los é normal.
A repressão da liberdade de pensamento das crianças impede a construção da identidade e individuação. Essas crianças, quando se tornam adultas, esperam que as outras pessoas lhe digam como fazer praticamente tudo. Algumas delas procurarão se casar com cônjuges controladores ou freqüentar ambientes onde haja regras muito rígidas. A prioridade do cuidador é impedir que as pessoas cresçam. O discurso usual do co-dependente é: "Depois de toda minha dedicação, você não pode ir embora".

Atuação da Codependência

Relacionamentos - O co-dependente tem hábitos e comportamentos autodestrutivos, que o mantêm preso a relacionamentos não gratificantes e o impedem de encontrar a felicidade na pessoa mais importante de sua vida: ele mesmo. Incapacidade de manter intimidade é uma das características mais marcantes do co-dependente.
Vícios - O codependente recorre aos vícios para fugir dos confrontos e das responsabilidades. Assim como vício ajuda o dependente a sentir-se temporariamente melhor, para o co-dependente, o resgate do outro representa uma fuga das próprias responsabilidades. O co-dependente não se sente digno de amor, e assim, se esforça para ser necessário - este é seu padrão de relacionamento e interação.
Doença física - Se por alguma razão o co-dependente não lançar mão de algum vício ou compulsão em busca de alívio, os sentimentos se expressarão por meio de sintomas crônicos persistentes que os médicos não conseguirão curar. Muitas pessoas são acometidas por doenças físicas desse tipo quando tentam evitar a dor de se apropriar de sua realidade e a dificuldade de aprender a vivenciar e expressar os sentimentos.
Espiritualidade distorcida ou inexistente - Dificuldade de acreditar em um poder superior. Sentimentos de inferioridade e imperfeição impedem a vivência da espiritualidade, assim como a arrogância e a mania de grandeza - neste caso considera-se desnecessária a proteção superior.

Satisfação das próprias necessidades - Crianças que tiveram todos os seus desejos e necessidades satisfeitos pelos pais em vez de serem educadas por eles para supri-los de maneira apropriada geralmente se tornam excessivamente dependentes na idade adulta. Eles têm consciência de suas necessidades e despendem enorme energia tentando fazer com que outra pessoa as satisfaça, lamentando-se ou exercendo alguma outra forma de manipulação.
Danos emocionais - Geralmente os co-dependentes são pessoas ressentidas - sentem raiva permanente de alguém, agarram-se à necessidade de punir a pessoa para reparar o sofrimento que acham que sofreram. Quando a pessoa se sente atacada em sua auto-estima, sente necessidade de acertar as contas e punir o outro.

Abuso espiritual

Muitos dos meus clientes não conseguem se sentir à vontade diante da idéia de Deus como "Pai", por causa do pai abusivo ou ausente que tiveram. É função dos pais desenvolverem espiritualmente seus filhos, de maneira saudável. Deve-se deixar claro que existe um poder superior que não é representado nem pelo pai nem pela mãe.
Os viciados em religião abusam basicamente dos filhos pela negligência, pela dedicação excessiva à igreja. Pais com este perfil usam Deus como uma droga para se tornarem mais poderosos, obterem controle e aliviar sua insuportável realidade. Como qualquer outro vício, o relacionamento com Deus pode aliviar a dor.

Casais que permitem que seus filhos durmam com eles, invadindo a intimidade dos pais, também é uma forma de abuso
Outra maneira abusiva de tratar os filhos é usar o conceito de Deus como forma de assustá-los e ameaçá-los. Os pais os manipulam e os controlam através da idéia do castigo divino, fazendo-os desenvolver o medo de Deus. As crianças distorcem o caráter de Deus, acreditando que ele seja punitivo. Pessoas que acreditam que Deus é um símbolo de castigo se tornam críticas e perdem a capacidade de se desenvolver espiritualmente.
Não posso deixar de mencionar que até líderes espirituais abusam das crianças, fazendo com que estas sintam ódio de Deus por ter permitido tal situação. Elas se tornam pessoas que sentem imensa raiva, que se não for expressa poderá desencadear a depressão e até o suicídio.

Abuso sexual

É muito mais amplo e complexo do que julga a maioria das pessoas. Mais tarde, os efeitos deste abuso tornam muito difícil a jornada do co-dependente em direção à cura. O abuso sexual nem sempre é manifesto e óbvio, não é necessário que ocorra o contato físico para que seja efetivado. Mas mesmo que seja expresso de modo sutil e oculto, seus efeitos sobre as crianças são reais e destrutivos na vida e nos relacionamentos.
Quando os pais têm problemas para desfrutar intimidade e satisfazer necessidades mútuas, podem estabelecer um relacionamento abusivo com um dos filhos. Pedindo consciente ou inconscientemente que este supra suas necessidades de afeto ou relacionamento romântico. Considero abuso os pais permitirem que os filhos durmam com eles, conduzindo a criança ao mundo íntimo que deveria pertencer somente aos pais.
Detecto com freqüência esta conduta em famílias nas quais o pai é viciado e fica muito tempo fora bebendo, ou está sempre ausente por questões de trabalho. Independentemente do vício, ele está fazendo algo longe da família e quase nunca está em casa para desfrutar intimidade com a mulher. Assim, a mãe se torna emocionalmente íntima de um dos filhos, passando a usar esta criança como um companheiro íntimo. Existem muitas dinâmicas de interação entre pais e filhos; duas crianças podem, por exemplo, ser arrastadas para o meio do casal, o pai fica com um dos filhos para si e a mãe fica com o outro.
A seguir, ilustro um quadro clínico: "Família com filha única que dormiu na cama com o pai até os 10 anos, enquanto sua mãe dormia no colchonete no mesmo quarto. Nesta situação ambos estão de acordo com o relacionamento íntimo entre o casal e a criança, e os pais ficam satisfeitos pelo fato de a filha estar desempenhando este papel na família. A função desta filha era mascarar a falta de desejo e intimidade deste casal".

Realidade pessoal distorcida

Falta identidade corporal ao codependente: extremos físicos podem se manifestar e até mesmo hábitos desleixados
A realidade do co-dependente se mistura com a vida da outra pessoa, e ele tenta fazer que o outro seja sua própria extensão. O co-dependente tenta interferir até na aparência do outro, na maneira como ele se veste, em quanto deve pesar, o que pensar e sentir, o que fazer ou não. É certo afirmar que a frustração e confusão do codependente se restringem basicamente às tentativas de controlar a realidade de outras pessoas e do fato de permitir ser controlado. Podem atingir quatro níveis:

Corpo: dificuldade de ver com precisão sua aparência - falta de identidade corporal. Os extremos físicos podem se manifestar também com a obesidade ou a magreza excessiva; ou ainda, por hábitos excessivamente asseados ou desleixados. Este comportamento é mais comum em indivíduos que sofreram abuso sexual;
Pensamento: dificuldade de expressá-los;
Sentimento: dificuldade de identificá-los e vivenciá-los. Suas emoções são pouco intensas ou inexistentes, ou são explosivas e angustiantes;
Comportamento: dificuldade de admitir o impacto do próprio comportamento sobre as outras pessoas. Também apresentam comportamentos extremos - ou confiam em todo mundo ou não confiam em ninguém.
A função do terapeuta é dizer ao cliente quando a aparência física, os pensamentos, os sentimentos ou o comportamento do cliente estão, de alguma maneira, adulterados, para alertá-lo para a realidade dele.

Pais co-dependentes comumente têm esse tipo especial de relacionamento com uma filha única. Isto faz com que ela se sinta confusa, mas ao mesmo tempo poderosa. Ela é a figura central e a confidente da família. Nesta experiência entre mãe e filha, esta é confidente e cuidadora daquela.
Quando a mãe faz de sua filha uma confidente, queixando-se de sua infelicidade conjugal, inexplicavelmente a filha quando adulta passa a querer aliviar a dor, o medo e a raiva de outras pessoas, na esperança de acalmar esses sentimentos dentro de si. Sem contar que sua crença em relação ao casamento e aos relacionamentos íntimos será abalada.
Evite rotular os filhos
Pais podem incorrer em erro grave ao rotular seus filhos, por exemplo: "O homenzinho da mamãe" (ou seja, o marido substituto da mamãe); "A menininha do papai" (ou seja, a esposa substituta do papai). Provavelmente, a figura da "menininha do papai" (a filha ser mais importante para o papai do que a mamãe) seja uma das experiências mais sedutoras de nossa cultura. Ao crescer, essa mulher irá comparar o pai com todos os homens com os quais se relacionar e geralmente não conseguirá encontrar um homem que represente para ela o que o pai representou. Além disso, esta filha poderá ter muita dificuldade em crescer e, de tempos em tempos, durante toda a sua vida continuará sendo uma menininha. Esse tipo de abuso confere muito poder à filha ou ao filho. As necessidades devem ser supridas entre adultos; mesmo que não ocorra nenhum contato sexual, o adulto está praticando abuso contra a criança.
Existem outras situações de abuso: beijar os filhos na boca; permitir que o filho mais velho acompanhe a mãe durante a ultra-sonografia do irmão (esta é função paterna, como o é, por exemplo, explicar à criança que o feto apresenta anomalia), etc.

Personalidades dependentes

Apesar de as conhecidas características deste padrão de personalidade dependente conferirem ao distúrbio a condição de distúrbio importante, o DSM-III considera como sua principal característica de comportamento permitir passivamente que outras pessoas assumam total responsabilidade por atividades importantes da vida do indivíduo, característica atribuída a sua falta de autoconfiança, bem como a dúvidas com relação a sua capacidade de viver de modo independente.
Personalidades dependentes apresentam insegurança e são facilmente seduzidos pelos outros. Eles acreditam que sempre haverá alguém bondoso que irá cuidar deles e proporcionar-lhes tudo de que precisam.
Um dos objetivos da terapia é promover a aceitação da realidade, o que significa reconhecer quem somos, onde trabalhamos, quanto dinheiro temos, quais são nossas responsabilidades.

Considera-se a proposição:

"Aceitação e Desligamento Emocional = Recuperação".

PERSONALIDADES DEPENDENTES ACREDITAM QUE SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM BONDOSO QUE IRÁ CUIDAR DELES E PROPORCIONAR-LHES TUDO DE QUE PRECISAM

Todo processo de cura começa com a verdade. A verdade sobre a própria vida, sua história e suas perdas. É preciso descobrir quem somos.

Buscar autoconhecimento é a única maneira de desenvolver nossas potencialidades e expressar o melhor de nós.
("E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará" - João 8:32)

Confrontar experiências como abuso sexual, violência doméstica, abandono ou o reconhecimento de que não tivemos pais com nível emocional apurado é muito sofrido, porém importante para seguirmos adiante.

A "cura" da Co-dependência começa com a busca pela verdade sobre a própria vida, sua história e suas perdas.

O desligamento dessas emoções é necessário no momento em que parecer menos provável ou possível. No entanto, tal desligamento não significa se afastar ou romper com o outro, mas libertar-se da agonia do envolvimento.
A base do desenvolvimento saudável é reverenciar os pais, respeitar o que significam e seguir em frente. O vínculo com a família é fonte de liberdade (mas é essencial que os filhos se emancipem e se diferenciem dos pais).

O desligamento deve ser feito com amor, pois quanto mais um filho rejeita os pais, mais vai imitá-los. Se rejeitar o pai por este ser alcoólatra, por exemplo, então a atenção se volta para a pessoa rejeitada. A condenação tem efeito negativo e perpetua o vínculo disfuncional em vez de desfazê-lo.
Quando um co-dependente interrompe a relação com a pessoa problemática, freqüentemente busca alguém com as mesmas dificuldades e repete os comportamentos co-dependentes com outros parceiros.
A família é um sistema que pode nos adoecer, não porque as pessoas sejam más, e sim pela profundidade dos vínculos e pela necessidade de compensação. Quando entendemos isso, paramos de nos envolver em loucuras e deixamos de ser vítimas. Deixamos de tomar conta compulsivamente de outras pessoas e tomamos conta de nós mesmos.

Esta é uma fase dolorosa do tratamento, mas não é um modo permanente de vida. À medida que o co-dependente confronta cada sintoma e inicia sua recuperação, certas características de pessoa saudável começam a aparecer e uma posição mais confortável se instala. Se o paciente não se considerar capaz de iniciar este processo sozinho, deverá buscar ajuda profissional.

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